sábado, 19 de março de 2011

Trombose de Prótese Mecânica - by Fábio Soares

Há exatos alguns minutos atrás estávamos discutindo um caso na UTI. Tratava-se de uma paciente feminina, 56 anos, com passado de trova valvar mitral há 18 anos (3 trocas prévias por por disfunção), evoluindo há 30 dias com dispnéia aos esforços. Quando do início dos sintomas, realizou ECO transtorácico que evidenciou prótese mecânica normofuncionante (gradiente médio AE/VE 6mmHg e PSAP estimada em 30mmHg). Os sintomas agravaram-se, sendo admitida na UTI há 48h com franca insuficiência respiratória devido a edema agudo de pulmão. Realizou ecocardiograma transtorácico e transesofágico que evidenciou disfunção de prótese, com restrição da mobilidade de um de seus folhetos, com diferença de velocidade na abertura dos discos, determinando gradiente AE/VE máximo 34mmHg e médio 16mmHg, com PSAP estimada em 90mmHg. Não foram visuaizados trombos. A paciente encontra-se em VM, em uso de baixas drogas de vasoativas, com edema agudo de pulmão refratário. O que fazer? Este foi o motivo de muita discussão entre Ecocardiografistas, Cardiologistas clínicos e Cirurgião Cardiovascular.
Pontos a lembrar
- Idade 56 anos
- Fibrilação atrial permanente
- HP grave
- 4 cirurgias prévias para troca de próteses em posição mitral
- Edema agudo de pulmão refratário /IC CF IV
- TP fora da faixa terapêutica
- Ecocardiograma há 30 dias, sem evidências de disfunção de prótese

O que fazer? Trombolítico? Cirurgia Cardíaca?

Conforme a literatura...
The Thrombosed Prosthetic Valve Current Recommendations Based on Evidence From the Literature
Joseph S. Alpert, MD, FACC
 
1. All patients with suspected TPVs should undergo echocardiographic study. If adequate visualization of the
prosthetic valve is not obtained by a transthoracic study, then a transesophageal echocardiographic study should be undertaken (level of evidence I).
2. Patients with right-sided TPVs should be treated with intravenous rtPA (100 mg administered as 10 mg immediate intravenous bolus followed by 90 mg infused over 90 min) or SK (500,000 IU over 20 min followed by 1.5 million IU infused over 10 h). Reduced doses should be employed in children and very small adults (level of evidence IIa).
3. Patients who are critically ill on presentation with TPV (pulmonary edema, hypotension, NYHA class III/IV symptoms) should receive immediate intravenous thrombolytic therapy as outlined earlier following appropriate echocardiographic confirmation of TPV (level of evidence IIa).
a. Serial echocardiographic studies should be performed in these individuals, and repeated infusions of trombolytic therapy should be administered if complete resolution of prosthetic valve thrombus is not achieved (level of evidence IIa).
b. Concomitant intravenous unfractionated heparin should be administered along with thrombolytic therapy to achieve an activated partial thromboplastin time that is 1.5 to 2.0 times control (level of evidence IIb).
c. Cardiac surgical consultation should be sought urgently. Valve replacement should be seriously considered
if repeated infusions of thrombolytic therapy fail to adequately dissolve the thrombus on the prosthetic valve (level of evidence IIa).
4. Patients with TPV who are clinically stable, that is, in NYHA clinical class I or II, may be managed medically with thrombolytic/antithrombotic therapy or surgically with valve replacement depending on physician/patient preference (level of evidence IIa).

========================================================================

Echocardiographic signs of obstructive prosthetic valve thrombosis

 
  • Reduced valve mobility
  • Presence of thrombus
  • Abnormal transprosthetic flow
  • Central prosthetic regurgitation
  • Elevated transprosthetic gradients
  • Reduced effective prosthetic area
========================================================================

 THROMBOSIS OF PROSTHETIC HEART VALVES: DIAGNOSIS AND THERAPEUTIC CONSIDERATIONS
Raymond Roudaut, Karim Serri, Stephane Lafitte

Heart 2007;93:137–142. doi: 10.1136/hrt.2005.071183

7 comentários:

  1. Caso interessante!
    Lembro que realizei um ecocardiograma no H. Salvador há 4 anos de um paciente jovem 22 anos que havia nítida disfunção valvar tipo estenose de prótese recém implantada em posição mitral e ele foi submetido a retroca com necessidade de outra reintervenção cirúrgica por complicações de poi. No final saiu bem devido a sua excelente reserva biológica!
    O grande problema é quando a estenose é gerada não por trombo, mas por panus ou vegetações, o trombolítico resolveria?
    Qual foi o desfecho da paciente Fábio?

    ResponderExcluir
  2. Bom, especificamente neste caso foi realizado trombólise com rTPA e repetido Eco ontem após 24horas. Não houve qualquer melhora do padrão hemodinâmico da prótese, mas huve queda da PSAP ´para 60mmHg. RX tórax ainda bastante congesto. Apresentou sangramento via cânula traqueal e pela sonda nasogástrica. Aguardando reavaliação da Cirurgia.
    Com relação a distinção de Panus e trombo, só a anatomia patológica! Claro que existem situações que é mais fácil, como por exemplo pcte com eco´há 1 mes normal, em uso de anticoagulante irregularmente e que após 30 dias apresenta disfunção da prótese. Situação bem diferente daquele paciente que não faz eco controle há mais de 5 anos, que vem em uso regular de ACO, porém realiza exame eletivamente e observa-se disfunção da prótese...
    O tempo entre o implante da prótese e o desenvolvimento de disfunção importa bastante. Neste caso que vc citou, é mais provável um problema de técnica cirúrgica ou mesmo estrutural da prótese, tendo em vista o estado fibrinolítico pós-cirúrgico, porém mesmo assim há relato de casos de trombo.

    ResponderExcluir
  3. Fiz uma eco de emergencia no HSI solicitado brilhantemente pelo nosso Clega Carlos Frederico com SD de trombose de P. mitral.
    Paciente chocado em VM..após diagnóstico pelo ECOTT ( não vimos trombo somente sinais indiretos).
    Foi feito trmbolítico.. em 06 horas paciente estava fora no tudo em VE..
    Abraços
    Leandro Serafim
    PS: Como sempre..parabéns pelo blog..

    ResponderExcluir
  4. Concordo, não é necessário ver o trombo para diagnosticar trombose de prótese. O diagnóstico é probabilístico, conseqüência da interação do quadro clínico e de dados ecocardiográficos diversos. Nunca podemos garantir que a imagem é um trombo, só inferir. Esta paciente tem alta probabilidade de ser trombose de prótese, isso é suficiente para se tomar atitudes.
    Quanto ao tratamento, o nível de evidência é baixo, não há ensaios clínicos. Mas em situações extremas, temos que tomar atitudes na ausência de evidências ideais. Coortes observacionais questionam a efetividade da trombólise e há 15% de incidência de embolia sistêmica. Desta forma, se o pacientes for grave (como essa), a escolha deve ser cirúrgica. Faço uma analogia com o IAM Killip IV – trombólise ou ATC primária? Se for grave, mas for altíssimo risco cirúrgico, trombólise.

    ResponderExcluir
  5. Especificamente neste caso,como a conduta fora trombólise, a paciente evoluiu com sangramento oral e hemorragia alveolar, sendo necessário realizar broncoscopia terapêutica. Após resolução do sangramento, conseguiu ser extubada, e encontra-se hemodinamicamente estável aguardando a cirurgia. Darei notícias

    ResponderExcluir
  6. Se o paciente estiver em uso de marevam com INR 2,8 e ETE confirma TRombose de prótese está contra-indicado aplicar fibrinolítico pelo risco de hemorragia?

    ResponderExcluir
  7. A terapia de anticoagulação oral é uma contra-indicaçãorelativa para a terapia trombolítica em geral. Mas os riscos benefícios devem ser pesados. Pensando desta forma um paciente com FA que faz um AVC isquemico ou IAM anterior extenso que chegam na janela de trombólise (na ausênsia de serviço de Hemodinämica) merecem usar trombolítico!

    ResponderExcluir